Ano Internacional da Enfermagem… de Guerra!


12.05.2020

 

Estamos na Semana da Enfermagem, começando hoje, Dia Internacional do Enfermeiro, e se encerrando em 20/05, o Dia do Técnico de Enfermagem. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) designaram 2020 como o Ano Internacional dos Profissionais de Enfermagem e Obstetrícia.

Nós, os “filhos e filhas” de Florence Nightingale e de Anna Nery, tivemos a justa expectativa de que a iniciativa iria nos dar voz, fazer a sociedade entender nossas atribuições (que, afinal, não somos médicos frustrados, nem auxiliares deles, mas cientistas do cuidado), e que temos dentro da nossa classe categorias diferentes, com atribuições – todas – importantes e peso na assistência e na equipe multidisciplinar de saúde. Somos a maior massa de trabalhadores da saúde do Brasil e do mundo.

Seríamos, por fim, valorizados, enxergados, considerados, além de reverenciados com eventos e homenagens? Creio que sim. Apareceríamos e aproveitaríamos cada chance para cobrar aquilo por que tanto lutamos há décadas: a carga das 30 horas semanais, o piso salarial nacional digno, proporcional ao tanto que estudamos, e cujo labor salva vidas. Tratados com justiça, a população entenderia que somos imprescindíveis à manutenção e promoção à saúde. Enfim, colheríamos nosso merecido respeito e valor.

Mas, aí… Do nada apareceu uma guerra, cujo exército de soldados microscópicos e desconhecidos é numeroso, se multiplica e altamente letal: o novo coronavírus. O Brasil, hoje, bate o vergonhoso e doloroso número de 11.519 mortes, de março para cá. Na enfermagem, somamos até ontem, 12 de maio, no Brasil, 13.403 casos reportados e 98 óbitos. No Rio de Janeiro, estamos abaixo somente de São Paulo, com 28 óbitos e nada menos do que 1304 adoecidos confirmados por Covid-19.

E 2020, realmente, é o Ano Internacional da Enfermagem. Da pior forma possível, o mundo descobre a nossa essencial competência: estamos no front da assistência de uma pandemia que mata de forma absurdamente sofrida, contagia das mais variadas formas, e vem dizimando os trabalhadores na ponta do enfrentamento à doença. Heróis? Não. Gente, que adoece, precisa de saúde e conforto. E de respeito, muito respeito!

Neste momento, em um país do tamanho de um continente, com mais de dois milhões de trabalhadores da enfermagem, é INADMISSÍVEL assistirmos a categoria morrendo por falta de condições sanitárias, inexistência de EPIs adequados, leitos, respiradores, medicamentos, insumos – e ainda acumular o trabalho de vários outros, por conta do déficit de profissionais. Com galopante desemprego, os governos não contratam e não conduzem às vagas aqueles que passaram nos concursos. Mas constroem hospitais de campanha, quando só no Rio de Janeiro, capital, em torno de 1800 leitos estão bloqueados por falta de profissionais de saúde e estrutura adequada para tratar pacientes de uma doença traiçoeira e que mata rápido.

O Coren-RJ, entidade da qual esta enfermeira que lhes escreve está presidente, também não se preparou para as consequências da Covid-19. Como também não estava preparado o mundo todo… Podia pedir desculpas, mas, melhor do que lamentos inócuos, vamos buscar forças, braços, pernas e, principalmente, estratégias, para mantermos nossas atividades-fim funcionando e voltadas para o exercício legal, pleno, ético e capacitado da enfermagem fluminense. Dentro das nossas possibilidades legais, ajuizamos Ações Civis Públicas em todo o estado, demandando por condições adequadas de trabalho, contratações e biossegurança. Agimos para promover a integridade física e emocional do profissional, para que este também não ofereça assistência arriscada por contágio aos usuários dos quais cuida. Distribuímos máscaras compradas pelo Cofen, apuramos com acuidade cada denúncia recebida e atuamos junto ao Ministério Público.

Às vezes, dá vontade de desistir, pela lentidão dos poderosos e sua burocracia engessadora, enquanto trabalhadores morrem. Mas, não podemos: escolhemos a luta por vocação.

Como Florence cuidou dos soldados feridos na Guerra da Criméia. Como Anna enfrentou os hospitais de campanha nos campos de batalha da Guerra do Paraguai. Nós honraremos o Ano Internacional da Enfermagem e exigiremos, como profissionais da mais alta importância neste combate cruel e sem precedentes na história moderna deste planeta: salvem-nos e salvaremos as suas vidas. Nos valorizem e avançaremos no saber técnico-científico, teremos mais tempo para estudar e nos aprimorar, com mais energia para progredir.

Vai passar, há de passar, sobreviveremos e lutaremos para isto. Mas clamamos que o mundo nunca se esqueça da importância do nosso trabalho.

Ana Lúcia Telles Fonseca
Enfermeira – Presidente do Coren-RJ

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