Falha na segurança: repórter entra em hospital e fala com presos internados

Fonte: http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2015/06/falha-na-seguranca-reporter-entra-em-hospital-e-fala-com-presos-internados.html

15.06.2015

A GloboNews denuncia a falta de segurança em um grande hospital da rede estadual do Rio de Janeiro. É uma unidade que interna presos sob custódia da polícia. A reportagem mostra o Hospital Albert Schweitzer, que fica na Zona Norte do Rio. Acompanhado de uma ex-estagiária da unidade, o repórter Pedro Neville conseguiu entrar no hospital sem precisar se identificar, apenas vestido de branco. Ele não se passou por funcionário: bastou estar vestido de branco para entrar sem que ninguém perguntasse quem ele era e nem onde ele iria.

A GloboNews entrou no hospital às 7h da manhã, horário da troca de turno dos médicos e enfermeiros. Poucos metros depois da entrada, havia três funcionários na recepção. Nenhum deles cobrou a identificação da equipe.

O repórter circulou pelo setor de emergência, que fica no térreo, e subiu alguns andares pela escadaria. No quarto piso, passou por um agente penitenciário no corredor e um homem que parecia ser um segurança. Mais uma vez, a equipe não foi abordada.

Repórter conversou com presos internados

No sétimo andar, a maior prova da fragilidade da segurança no hospital: a GloboNews entrou em um quarto com quatro pacientes algemados nas macas. Um inspetor da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária estava sentado na varanda, de frente para a televisão, e não interferiu na entrada.

O repórter conversou com um dos presos. Ele contou que está ali há três meses e admitiu ser traficante. Enquanto ele conversava com outro preso no quarto, um segundo inspetor penitenciário chegou e também não perguntou o que a equipe estava fazendo ali.

No mesmo andar em que os presos estão internados, também há pacientes comuns e parentes deles pelo corredor.

Ex-estagiária ficou sob mira de fuzil

A estudante de enfermagem que acompanhava a GloboNews contou que, no ano passado, enquanto ainda estagiava nesse hospital, ficou sob a mira de um fuzil. Um grupo de cinco homens armados entrou no hospital, foi até ao centro de imagem e ordenou que ela atendesse com prioridade um dos integrantes do bando, que estava ferido.”Era um bandido que era importante aqui no morro e eles vieram com fuzil pra gente poder atender, dar prioridade ao atendimento do bandido”, conta a estudante. Sobre os policiais, ela disse que eles “ficaram rendidos, não podiam fazer nada”.

Duas funcionárias da faxina disseram que se sentem inseguras por trabalhar ali, com tantos pacientes sob custódia.

“É área de risco, isso aqui é um dos piores hospitais pra se trabalhar. Agora até que está calmo. Aqui já foi muito perigoso. Outro dia o policial veio caçando, tinha um preso aí, solto aí”, diz uma funcionária.

A equipe de reportagem entrou e saiu do hospital mais duas vezes e em nenhuma delas foi parada pelos vigilantes, pelos policiais ou pelos agentes penitenciários que acompanhavam os presos no setor de emergência.

A especialista em segurança Elizabeth Sussekind avaliou as gravações e classificou como gravíssima a facilidade com que a equipe conseguiu circular pelo hospital.

“Vocês entraram sem qualquer identificação, ou seja, se não fossem vocês poderiam ser criminosos que ou ajudariam comparsar a fugir ou que poderiam matá-los, como já ocorreu algumas vezes aqui no estado do Rio de Janeiro. Criminosos não deveriam estar em hospitais públicos, onde há outros pacientes. Eles deveriam estar em hospitais de custódia, com uma vigilância maior nas pessoas que tratam os presos ou que podem fazê-los se comunicar com o exterior”, explica a professora de Criminologia da Unirio.

A Polícia Militar do Rio disse que o grau de periculosidade do preso é o que determina o número de policiais que fazem a custódia dele.

A PM informou ainda que todos os policiais podem fazer custódia de presos em hospitais, desde que haja um pedido feito por um delegado.

A Secretaria Estadual de Saúde disse, em nota, que a direção do Hospital Albert Schweitzer diz que não procede essa alegação de falta de controle e que o hospital dispõe de duplo controle tanto na entrada quanto na saída. A nota ainda diz que os funcionários precisam de um crachá de identificação para entrar no hospital. Quem não é funcionário precisa utilizar uma etiqueta, inclusive apresentando na entrada algum documento de identificação.

O vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro, Thiago França, afirmou profissionais estão expostos e não tem a quem recorrer.

“É uma realidade que ocorre com frequência, a exposição dos pacientes tão quanto dos profissionais. Hoje, existe uma fragilidade no sistema de controle tanto de visitantes quanto de profissionais como a reportagem conseguiu provar. Isso ocorre de uma maneira muito insalubre. Hoje, na maioria das instituições, nós temos proteções patrimoniais e ninguém protege nem o profissional nem o paciente. Como a reportagem mostrou, quem identificou o diferente, a pessoa que não pertence à equipe, sempre é a enfermagem. E nesse momento a gente não tem a quem recorrer trazendo essa exposição toda. No momento de assalto, a gente não tem a quem pedir proteção. E é uma responsabilidade que não cabe ao profissional de saúde, seja ele de qualquer categoria. Isso é uma responsabilidade da administração hospitalar”, diz.

Thiago França ressaltou que os profissionais de saúde correm risco de vida. “Toda essa situação é reflexo da sociedade que a gente vive. O mesmo risco que a gente tem na sociedade, os profissionais têm. Com um agravante: a gente tem que proteger a nossa saúde e os pacientes. E nós vamos ser, muitas vezes, responsabilizados por um ato que não nos compete. A gente, muitas vezes, protege o paciente botando a nossa vida em risco, porque quem está 24h no hospital é a enfermagem”, conta.

Em maio, homem furtou funcionários de outro hospital no Rio

No fim do mês passado, um homem se passou por médico e invadiu o Hospital Estadual Getúlio Vargas, também na Zona Norte do Rio. Ele se passou por médico usando um crachá falso. O homem entrou no setor de ortopedia e chegou até a sala de estar, que é um local de descanso dos funcionários. Uma funcionária estranhou, percebeu que não era uma pessoa que estava ali diariamente e que as bolsas estavam abertas na sala de estar.

No dia seguinte, o homem voltou para furtar novamente, mas foi parado pelos seguranças do hospital. Marco Aurélio, de 49 anos, foi preso em flagrante por supressão de documentos. Ele está preso no presídio de São Cristóvão.

“É muito comum pessoas estranhas, além da questão da custódia, entrarem para agredir tanto pacientes quanto funcionários”, diz Thiago França.

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